A resenha de hoje é de um livro simplesmente sensacional! Os últimos dias de Dilúvio da Serra, do autor Adriano Paciello, publicado pela Chiado Editora, é a primeira surpresa de 2017, entrando facilmente para os favoritos e caindo na lista de indicações para a vida.
Sinopse:
Dilúvio da Serra é uma cidade repleta de superstições e sua aversão ao número 13 é uma obsessão. Prestes a completar 100 anos e com 12.999 habitantes, uma chuva avassaladora e o iminente nascimento do próximo diluviano endossam o medo da extinção do local. Pegue seu guarda-chuva e acompanhe os últimos dias de Dilúvio da Serra.
O que move uma crença?
Uma crença pode mover uma cidade? As vésperas de seu aniversário de cem anos, Dilúvio
da Serra respira superstição. Uma crença que começou junto à sua fundação,
quando a esperança fazia parte da vida das doze famílias que ali fizeram morada.
Mognos da Serra seria o
nome. Uma bonita placa de madeira para batizar o local e seguir a vida. Estamos em 1813, mais
precisamente no dia 13 de setembro daquele ano, às 13 horas. O discurso de
inauguração nem chegou a acontecer, pois a chuva veio forte e terminou com
tudo. Depois de doze dias de chuva incessante, uma explicação. Fizeram todas as
ligações possíveis e o problema era um número: 13 na data, no número de letras
do nome da cidade, o “M” de Mognos, ocupando a décima terceira posição no
alfabeto; era o número em tudo e isso justificava sua ruína.
Ali não havia espaço
para a lógica, para o bom senso.
“O
amor incondicional a algo, a alguém, aos olhos dos normais, soa como uma aberração,
incomoda, revolta, contudo, enquanto o véu mágico estiver cobrindo a realidade,
dor e limites ficam a dias de distância.”
Passados doze dias, um
novo nome, uma nova placa de madeira, o milagroso fim da chuva e uma vida que
seguiria irreversivelmente contada.
O tempo foi passando e
a cidade foi crescendo de uma forma peculiar, sempre guiados pelas contagens e
exclusão de quase tudo que houvesse o número 13 ou sua letra correspondente no
alfabeto.
Dilúvio da Serra,
próximo ao seu primeiro centenário, teme o fim. Com 12.999 habitantes e a chegada
próxima de mais um diluviano, eles aguardam fielmente o cumprimento da
profecia, que dita a extinção da cidade.
Neste cenário, o Padre
Magno Manqueso, único a iniciar seu nome com M e a conter no nome treze letras,
tenta abrir os olhos dessas pessoas e mostrar que a fé deve ser maior que suas
crendices, mas para isso, ele deve enfrentar Johann Von Becke, que traz como
tradição de família o medo e a precaução a tudo que possa atrair a desgraça
novamente à sua cidade.
Beirando a insanidade,
Johann tenta, de todas as formas, manter a crença da população de Dilúvio de
Serra, enquanto Magno luta para trazer o bom senso àquelas pessoas. Com os dias
contados para o centenário, os quase treze mil habitantes que mesmo temendo,
aguardam o fim, se encaminham para uma catástrofe quase que desejada.
Que livro! Não tenho outras
palavras para descrevê-lo; um final inimaginável e não sei se posso defini-lo
assim, mas “hecatômbico” seria uma palavra adequada, mesmo que aparentemente
esta variação não exista. Mas e as crendices, elas existem? São reais? A
fixação por um número pode abalar uma sociedade inteira ou a fúria da natureza
age conforme sua vontade, ignorando o temor dos que em meio ao pavor na terra
vivem? Todo o medo que a população diluviana alimentou por cem anos, tem sequer
uma gota de fundamento? De um lado, um homem que cresceu rodeado por histórias
fatais associadas a um número, de outro, um Padre decidido a livrar a população
de um medo infundado. No meio, pessoas que não sabem viver de outra forma se não a qual foram instruídas a viver, pois é o que se espera de uma
desencorajadora e sincera cidade que acolhe seus visitantes assim: quando se
entra “Pena que viestes; ao sair, Bom que vais”.
Os últimos dias de
Dilúvio da Serra traz uma análise profunda da sociedade, entrou para meus
favoritos e ao contar seu resumo para amigos, que infelizmente não carregam
consigo o hábito da leitura, é impossível não assistir essa história, que em
poucas páginas e raros diálogos, fala tanto e mostra muito. Quando penso em
Dilúvio, posso visualizar perfeitamente a grande praça, a confeitaria e alguns
personagens ali tomando café. Os acontecimentos ocorridos nos dias que
antecederam ao centenário da cidade e que foram por Adriano Paciello contados,
ficaram marcados em minha memória quase que como um filme, não sendo mais
nítido apenas do que a certeza de que as lendas, as crenças, são o que as
pessoas fazem delas.
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Título: Os Últimos Dias de Dilúvio da Serra
Autor: Adriano Paciello
Ano: 2016
Editora: Chiado
Páginas: 127
Gênero: Ficção / Romance
O autor:
Adriano Paciello
Professor de Lingua Portuguesa ha 21 anos no ramo de cursos preparatórios a concursos públicos
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