A vida dos sonhos transformada em um pesadelo. A resenha de
hoje é do livro Espelho dos Olhos, do autor Nicolas Catalano. Uma distopia
nacional de tirar o fôlego, que prende o leitor desde a primeira frase.
E, se por causa de uma revelação, sua vida
mudasse? E, se por causa de ser quem você é, as pessoas te julgassem sem ter
conhecimento algum? Revelar-se, às vezes, pode não ser uma boa ideia. Mas é
preciso.
Enquanto Evangellyne Allins tenta sobreviver a uma Escola tirana, num país onde
cores de olho, Elites e Classes de Talento são o que importa, a vida de seu
querido pai está em tremendo risco. Esse foi o preço de sua manifestação.
Será que valerá a pena enfrentar todos os seus reflexos mais profundos e
íntimos pela pessoa mais amada?
Tortura. Medo. Aversão. Evangellyne será forçada a descobrir-se quer queira
quer não. Ela será obrigada a arcar com as consequências desoladoras de sua
manifestação; e seu interno, o estado Espelho dos Olhos, a transformará
inconscientemente.
Em um país onde a cor dos olhos e o poder aquisitivo definem
o futuro da população, quem não nasce com olhos coloridos é considerado um
nada.
Evangellyne Allins mora na ilha mais pobre do país. Filha de
um zero classe, ela leva uma vida simples e com poucos recursos, embora, devido
à cor verde dos seus olhos, pertença a uma classe de talento: a dos
glorificadores.
Evangellyne nunca sentiu essa classe aflorar em seu ser. Sentindo-se
uma aberração por não conseguir se desenvolver, ela luta para provar que foi a
única a nascer diferente em Stravânsia, a única a possuir olhos coloridos e não
ser possuidora de nenhum talento especial.
“E quem nesse mundo disse que o
estranho não deve ser o preferido?”
Entretanto, o destino reserva outras surpresas para esta
peculiar garota e em um piscar de olhos toda a sua vida muda. Ela se vê em uma
trama de mentiras, enganações, crueldade e tortura. Cada dia parece ser mais
difícil, porém ela deve perseverar para continuar viva e evitar o mal daqueles
que ama.
“A insegurança é um monstro.”
Stravânsia é um país cruel, onde apenas os ricos podem ter
chances de sucesso na vida. O cientista Remi Claus criou uma raça de humanos
especiais. Cada cor de olhos corresponde a habilidades incríveis. Esses
talentos devem ser aperfeiçoados na Escola Talental. Para ingressar na
instituição, além de ter uma classe de talento, a pessoa ainda deve ser rica,
pois o custo é altíssimo. A única forma de garantir um futuro melhor é obtendo
o Certificado Comunal Humano e, por este motivo, apenas os ricos podem crescer
no país.
“Eu me sinto um nada.”
As classes são divididas da seguinte forma:
Cor dos olhos
|
Classe de Talento
|
Sistema de Elites
|
Amarelo
|
Guerreadores
|
Elite A
|
Azul
|
Sirens
|
Elite A
|
Roxo
|
Vocalizadores
|
Elite A
|
Vermelho
|
Arcanos
|
Elite A
|
Cinza
|
Pintores
|
Elite B
|
Cor-de-rosa
|
Acrobatas
|
Elite B
|
Verde
|
Glorificadores
|
Elite B
|
Castanho
|
Guardiões
|
Elite C
|
Preto
|
Zero-classes
|
-//-
|
Evangellyne sempre soube que era diferente. Nasceu com olhos
verdes, mas não desenvolveu suas habilidades. Vive na ilha do sul, região mais
pobre do país, porém isso não a impede de ter uma vida feliz. Apesar das
restrições financeiras, ela tem um pai que a ama incondicionalmente, uma amiga
pra todas as horas e seu animal de estimação, que é um grande companheiro.
Mesmo sentindo que algo não se encaixa em seu ser, ela segue
sua vida normalmente até que a viagem de busca chega à ilha do sul. Assim, os
questionamentos sobre sua íris tornam-se constantes: ela deveria ir para a
escola talental, aperfeiçoar suas habilidades e adquirir o certificado comunal
para entrar na elite de Stravânsia. Porém, além de não possuir habilidades
aparentes, seu pai jamais teria dinheiro para bancar seus estudos. Com o pouco
que ganha mal consegue garantir uma vida digna para os dois.
“O motivo de nascer só é válido se
ele resultar em uma adequada razão.”
Após muitas humilhações e sentindo-se cansada das cobranças,
ela resolve expor sua realidade para a população e mostrar que nasceu diferente
do que é esperado. Nesta noite, todos os seus planos acabam dando errado: a
classe de talento, finalmente, se manifesta em Evangellyne e com a “Ajuda” de
um padrinho ela é enviada para a escola talental.
“Se educação garantisse Elite, você
estaria perdida.”
Lá, o que deveria ser um sonho para a garota, acaba se
tornando seu pior pesadelo. A luta pela sobrevivência é constante, ela tem que
enfrentar muitas mudanças, humilhações e não pode fugir, pois a vida do seu pai
depende do seu sucesso na instituição.
“Desde pequena, sonho em entrar nesta
escola para ser alguém, receber os mínimos dos merecimentos ao tornar-me alguém
de quem se orgulhar, mas da maneira como a vida me jogou, isso parece obscuro.”
Medo, insegurança, perda da identidade e crueldade são alguns
dos obstáculos que ela deve enfrentar para concluir sua missão. Um árduo
caminho que ela precisará de forças para percorrer.
“A vida. Ela não é mais minha.”
Gostei muito da Eva. No inicio, a ingenuidade e alegria dela
foram contagiantes. Mesmo com alguns conflitos internos, ela conseguia ver as
coisas boas da vida e dar valor ao que realmente importava.
“Só é especial aquele que merece
ser!”
Após as revelações que aconteceram na sua história e a ida
para a escola talental, ela se transformou em outra pessoa: alguém dominado
pela raiva e pelo medo. Nesta nova fase, a garota doce se transforma em uma
corajosa mulher, lutando dia-após-dia por sua família. Ela deu o melhor de si e,
mesmo tendo momentos de fraqueza, jamais desistiu.
“Você não deve fugir de seus medos.
Nunca. Deve extinguir os seus demônios internos, excluí-los, exterminá-los!”
Houve muito sofrimento em sua trajetória. O fardo de ser
diferente a acompanhou em toda a narrativa, a intolerância e crueldade das
pessoas feriram seus sentimentos. Isso acaba machucando também o leitor que se
envolve com tudo que acontece com a personagem.
“Há respostas neste mundo humano que
as pessoas não estão preparadas para enfrentar... ainda.”
Ela também conheceu bons amigos na escola talental, entre
eles, Valete, a pintora bipolar, o tímido Gory, e Zabeth, que de uma forma
estranha se tornou sua protetora.
“Todos nós merecemos uma segunda
chance para provar que realmente somos.”
Em meio a todo o turbilhão de sentimentos que bagunçaram sua
vida, Eva ainda está sentindo as primeiras
paixões. Seu coração fica indeciso entre dois jovens que chamam sua atenção.
“Pois, se nem mesmo o céu, que é tão
grandioso e infinito, consegue estabilizar-se ficando apenas com uma cor, como
nós, “meros pequenos mortais”, conseguiremos estabilizar-nos com nossos
sentimentos?”
O autor criou um universo literário incrível, rico em
detalhes, com criaturas diferentes, mistérios, toda a cultura e situação
político-social do país. O leitor se sente dentro da história, podendo imaginar
cada cenário, cada personagem. Conflitos
que enfrentamos no dia-a-dia são inseridos na narrativa e, com isso, nos
sentimos mais próximos dos personagens em todas as situações. Todos já se
sentiram injustiçados, diferentes, com medo ou presenciaram a crueldade do
mundo. E também aproveitaram o carinho das pessoas que amam. Tudo isso torna cada
individuo de Stravânsia mais humano e cria um vinculo crucial para o bom
andamento da leitura.
A trama é dividida em três partes:
-A vida de Evangellyne na ilha do sul
é narrada na primeira parte;
-A segunda parte, a mais extensa, retrata
toda a sua trajetória na escola, todas as dificuldades que enfrentou e também
os poucos bons momentos que teve;
-Na terceira, a conclusão da sua
missão acontece, deixando os leitores ainda mais aflitos.
Aflitos? Sim! Este é o primeiro livro de uma série, então o
final fica em aberto e ainda garante aquele gostinho de quero mais. A ansiedade
até o próximo volume ser lançado será enorme.
“Apesar de onde estou, é fácil dar
passos, bastam apenas movimentos curtos. Difícil mesmo é entender para onde
eles me levarão. Se serão lugares bons ou ruins. Assim como a vida me levou.”
Amei o livro, uma distopia muito bem construída e uma leitura
envolvente e viciante. Um livro que nos faz repensar nas injustiças do mundo e
em como nos posicionamos quando estamos perto desses tristes fatos. O autor
está de parabéns por tudo que criou nessas 464 páginas. Uma história de tirar o
fôlego que vai conquistar todos os fãs do gênero.
“Devemos procurar a nossa própria
felicidade e não a do outro. Pois a nossa é a que nos move e nos faz sentir
aquela sensação boa em relação a quem somos para transmitirmos o bem.”
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Stravânsia.
Título: Espelho Dos Olhos
Autor: Nicolas Catalano
Autor: Nicolas Catalano
Editora: Novo Século
Ano: 2015
Páginas: 464
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