sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Campeões de Gaia

Uma fantasia capaz de fazer uma fã de romances, como eu, se render e viciar na história. Merece uma salva de palmas e muitos novos leitores. A resenha de hoje é sobre o primeiro livro da Trilogia dos Três Domínios,  “Campeões de Gaia”, do autor L.L. Stockler.


 “Que as estrelas iluminem o caminho.”

Há cerca de quatrocentos anos, Celo, deus-pai e senhor dos céus, teria designado uma família para governar toda Gaia e instaurar sua ordem divina. Sobre as cinzas de seus inimigos, os Draconem então construíram o maior e mais vasto império já visto, dominando a tudo e a todos, como lhes era de direito.
Quando seu pai morre trinta e cinco anos após a Rebelião de Krallik, Kayla percebe que não havia mais nada que a prendesse à pacata fazenda onde crescera no interior de Jardinsul. Ela estava livre para explorar o mundo, que até então conhecia apenas pelas páginas de livros, e gravar seu nome na História. Determinada sua partida, Trevor, seu leal amigo, não vê escolha se não segui-la e descobrir, junto dela, o seu próprio destino.
Entretanto, a dupla logo aprenderá que a realidade pode ser mais dura do que contavam as histórias, que sequelas de séculos de disputas podem ser fortes o bastante para pôr em xeque a paz imperial, e consigo a vida de todos os habitantes de Gaia.



Com a morte de seu pai, Kayla não vê sentido em continuar na pequena vila sem nome do interior da província de Jandirsul. Ela não tem mais família, nada a prende naquele lugar, a não ser seu melhor amigo, Trevor. Kayla tem uma sede impressionante de explorar o mundo, conhecer tudo aquilo que só viu nos livros, desvendar o oculto e marcar seu nome na história.
Trevor é feliz onde vive, com sua vidinha pacata e sua bela família. Ele poderia terminar seus dias ali, mesmo que não tenha sido esse o destino traçado para ele. Mas como pode ver Kayla partir? Como continuar em paz deixando sua melhor amiga se afastar, talvez para nunca mais voltar? Como aceitar que a deixou desbravar o mundo sem sua proteção?
Embora ali fosse um lugar feliz, Trevor sabia que teria que partir. Entrar nessa aventura com Kayla, enfrentar os perigos do mundo, e neste processo, descobrir quem ele realmente é.
Partindo, os dois amigos encontram muitas aventuras, tornam-se mercenários, enfrentam bandidos, duelam. Eles estão tendo a vida que sonharam, destemidos e corajosos, enfrentando todos os perigos para, um dia, serem lembrados.

“A vida não são flores, menina.”

Porém a vida no poderoso Império Draconem pode ser muito mais perigosa do que eles pensavam. E subitamente os jovens se veem envoltos em uma disputa de poder regada a sangue, violência e vingança. Esta é a grande chance dos dois escreverem seu nome na história de Gaia, mas antes disso, eles terão de lutar para permanecerem vivos.

“O mundo se estende diante de vocês, basta esticar a mão e pegá-lo.”


Uma aventura fantástica recheada de ação, perigos e traições. Campeões de Gaia é aquele livro que te prende e te leva para dentro da história, que te permite viver junto com Kayla e Trevor todas aquelas aventuras eletrizantes.
Ambientado no Império Draconem, podemos acompanhar como era a vida neste tempo fictício. Os valores da população, a rotina dos mercenários e aventureiros, as disputas por poder, o descontentamento do povo, as rebeliões e injustiças.
Kayla e Trevor viviam tranquilamente em uma pequena província e tinham a garantia de segurança naquele pequeno povoado. Trevor poderia passar anos assim, cuidando de suas terras, perto da sua família. Porém Kayla não pensava da mesma maneira. Sua família já havia partido e nada a segurava ali.
Ela queria conquistar o mundo, marcar seu nome na história, viver todas as aventuras que ela só tinha presenciado nos livros. Uma menina de personalidade forte. Muitas vezes suas escolhas e atitudes podem chocar o leitor. Ela é extremamente fria e calculista, faz aquilo que tem que fazer, seja partir da sua cidade natal ou tirar a vida de alguém. Ela não tem reflexões sentimentalistas, simplesmente faz o que acha que é correto. Esse jeito polêmico pode dividir opiniões, alguns leitores podem achá-la inconsequente, eu a achei genial. Amei a personagem, sua coragem e ironia, fazendo tudo conforme sua cabeça manda. Encarando os perigos sem medo, convicta de que tem força suficiente para vencê-los.

“Para ela, a morte era tão necessária à vida assim como a noite era ao dia. A morte é o destino dos vivos e ponto final.”

Trevor é o oposto de Kayla. Ele é aquele bom moço, responsável. Mesmo sendo feliz na sua terra, não aguenta ver Kayla partir sozinha e embarca nessa viagem com o intuito de protegê-la, somente isso já diz muito sobre seu caráter.
Um garoto bonzinho que vive diante da moral e dos bons princípios, comprometido com sua honra, fazendo sempre o que é certo. Não consegue realizar algo sem pensar em como isso afetaria aos que estão ao seu redor.
A amizade entre os dois é linda e verdadeira. Um está preparado para dar a vida pelo outro. As personalidades extremamente diferentes se completam e os tornam inseparáveis. Mesmo enfrentando grandes perigos, juntos eles têm força para sobreviver.

A jornada desses dois amigos é intensa. A cada dia eles encontram dificuldades maiores, aventuras mais perigosas. Tornam-se mercenários e aceitam trabalhos que a maioria rejeitaria, lutam contra bandidos, rebeldes, seres místicos. Além de toda a ganancia por poder que eles presenciam. O que as pessoas fazem nessa busca cega por domínio e riqueza no livro é tão cruel. O povo sofre tanto e o mais triste de tudo isso é ver que a nossa realidade é semelhante: repleta de governantes corruptos buscando uma melhor qualidade de vida e massacrando a população para alcançar este fim.

“Eles mentem para si próprios. Negam a realidade que se estende à sua frente. Negam a revolta que queima ao seu redor. Negam a desigualdade fomentada ao seu lado! Negam que são os verdadeiros causadores deste estigma que tanto envenena e destrói a sociedade! Preferem apontar o dedo e jogar a culpa para o primeiro coitado que encontrarem do que encarar os fatos.”

Uma leitura sensacional. Não sou a maior fã de fantasia, mas este livro conquistou meu coração, entrou para os meus favoritos e me fez ver com outros olhos este gênero.
Tenho certeza que L.L. Stockler andou tomando chá das cinco com George R. R. Martin, porque aprendeu direitinho com ele a melhor forma de conquistar, destruir e reconquistar o coração do leitor.
Recomendo a leitura aos fãs de fantasia e também aos iniciantes nestes universos fantásticos. Certamente as aventuras de Kayla e Trevor serão uma iniciação perfeita para vocês, arrebatando corações e adquirindo novos fãs. Ansiosíssima pelo próximo volume da trilogia! *-*

“Serão o suficiente quando puderem derrotar cem inimigos sem derramar uma gota de suor, quando moverem montanhas com as mãos e se tornarem verdadeiros campeões de Gaia. Só então serão o suficiente para todos os perigos que a vida é capaz de lhes impor.”

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“Mais vale uma vida curta e boa do que uma longa e entediante.”

“Sorte é para os fracos.”

 “Acho que você tem o direito de se portar como um babaca quando se é um príncipe.”

“-A corrupção está longe de ser uma questão de tempo (...). Apenas diz respeito ao preço, basta pagar-lhes a moeda certa.”

“O direito é uma ficção criada pelos governantes para justificar o próprio governo.”



Título: Campeões de Gaia
Autor: L.L. Stockler
Editora: Novo Século
Ano: 2016
Páginas: 318

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Por Lugares Incríveis

E essa resenha gente? Não tem como definir esse livro numa resenha! Mas com certeza é um dos livros mais ricos em quotes e pensamentos vivos que já li. Jennifer Niven entrou para as autoras favoritas, e sim, leio tudo que ela escrever. 



Theodore Finch está desperto novamente. Após dias de blecautes onde mal se lembra do que aconteceu, em especial as datas festivas do último fim de ano, ele acorda e não sabe exatamente por quantos dias ficará assim. E enquanto espera os dias de escuridão chegarem novamente, ele se pergunta todos os dias: "Hoje é um bom dia para morrer?" É quando se vê a seis metros de altura, prestes a pular da torre do sino da escola, que ele descobre que não está sozinho.

Violet Markey é o tipo de garota que leva uma vida perfeita, mas tudo acaba no dia que sua irmã, Eleanor, é vítima de um acidente de carro que apenas Violet sobrevive. Sentindo-se culpada, ela se afasta de tudo e de todos e sem saber como, vê-se também no alto da torre do sino da escola, prestes a pular. Apavorada quando as pessoas lá embaixo começam a notá-la, Finch a ajuda a sair dali sã e salva, no que mais tarde fica conhecido como o dia em que Violet Markey salvou a vida de Theodore Aberração, o aluno mais suicida de todos os tempos da escola de Bartlett.

Quando o professor de geografia passa um trabalho para a turma no qual eles devem visitar lugares de Indiana, Violet se vê encurralada quando Finch, diante de toda a turma, a convida para ser sua dupla na tarefa. Sem mais desculpas sobre não estar preparada, ela e Finch se aventuram por lugares onde nunca pensaram visitar.

“[...]tenho no carro um mapa que praticamente pede pra ser usado, e existem lugares que precisam ser vistos. Talvez ninguém nunca vá até lá nem valorize esses lugares nem se dê o trabalho de pensar o quanto são importantes, mas talvez até o menor deles tenha algum significado. Se não tiverem pros outros, talvez tenham pra gente. No mínimo, quando a gente for embora, saberemos que pelo menos os visitamos. Então vamos. Vamos até lá. Vamos fazer alguma coisa. Vamos sair do parapeito.”

Inevitavelmente, essa improvável amizade se transforma em um amor verdadeiro e único. Finch mostra a Violet uma forma nova de ver a vida e aos poucos ela vai recuperando a esperança de viver e ser feliz.

Sinceramente, Violet, não sei por que a galera não gosta de mim. Mentira. Quer dizer, eu sei e não sei. Sempre fui diferente, mas pra mim diferente é normal.”

Como ser o que lhe dá na telha se sempre está sendo julgado pelos olhos da sociedade? Por Lugares Incríveis é mais um daqueles livros que me fazem refletir sobre os relacionamentos sociais. As pessoas estão se tornando uma massa homogênea, onde quem é “diferente” deve encarar sem medo os rótulos atribuídos às suas características ou sofrer as consequências. Finch não se importa com isso, ele escolhe uma personalidade diferente a cada semana, “Finch Canalha, Finch Largado, Finch Fodão, Finch anos 80.” Ele não se importa, mas infelizmente compreendemos todo o impacto do que é uma pessoa ser tachada como diferente.

“Quero me afastar do estigma que todos eles sentem só porque têm uma doença no cérebro e não, digamos, no pulmão ou no sangue. Quero me afastar de todos os rótulos. “Tenho TOC”, “Tenho depressão”, “Eu me corto”, eles dizem, como se essas coisas os definissem. Tem um coitado que tem déficit de atenção, é obsessivo-compulsivo, tem transtorno de personalidade limítrofe, é bipolar e, ainda por cima, tem um tipo de transtorno de ansiedade. Eu nem sei o que é transtorno de personalidade limítrofe. Sou o único que é só Theodore Finch.”

A perspectiva de Finch me trouxe a realidade da tristeza profunda. Nunca entendi os motivos dessa “doença” a que chamam depressão. Acreditava que a cura estava em ajudar a si próprio, procurar a felicidade no dia a dia e viver. Mas isso se mostrou inútil na história de Jennifer Niven, Finch pode até  assumir as personalidades desejadas e não se importar com os rótulos que ganha, mas lá no fundo, algo sempre está falando mais alto.

“Ao andar pelos corredores, não há como prever o que Finch Fodão vai fazer. Dominar o colégio, a cidade, o mundo. Será um mundo de compaixão, de amor ao próximo, de amor entre alunos ou, pelo menos, de respeito entre as pessoas. Sem julgamentos. Sem xingamentos. Nada, nada, nada disso.”

E ele encontra? Aquela imensidão azul pode ser o caminho.